terça-feira, 18 de setembro de 2007

Biodiversidade, sim ou não?

Hoje estiveram reunidos em Portugal os ministros da Agricultura da UE a debater a cultura da vinha.
Em Portugal houve manifestações de agricultores em que chamavam atenção para as dificuldades dos pequenos viticultores, face às novas propostas da PAC.
Mais uma vez, fala-se de novo arranque de vinha na União Europeia.
A Europa arranca, o "Novo Mundo" planta !
O tema não podia ser mais actual.
A globalização já está nos hipermercados de Chaves, vende-se vinho do Chile e da Califórnia a preços convidativos.
Então o que mudou nos últimos anos?
O chamado "Novo Mundo" pegou nas castas mais nobres dos países que históricamente cultivavam a vinha e investiu na investigação científica e começou a fazer vinho a que hoje se chama de "vinho tecnológico". Nas provas cegas ganha medalhas e dá bigodes aos Bordeaux!
Boas uvas, bem trabalhadas, com muita tecnologia na adega.
Como era antigamente?
Os nossos avós eram partidários da biodiversidade da vinha; muitas castas diferentes, todas misturadas, eram uma espécie de seguro de colheita, pois se uma falhava outra compensava... o objectivo era a quantidade dos "almudes"que tinham que produzir para manter a casa e pagar ao padre ou dar de beber aos trabalhadores no dia da jorna.
Nunca tinham um vinho "igual", quando muito parecido ... era até interessante todos os anos comentar os sabores do vinho da última colheita.
O vinho era saboroso á saída da pipa, depois de transfegado uma vez engarrafado azedava, voltava a ferver ou ficava vinagre! Na melhor das hipóteses ia perdendo a cor... e ficava cansado.
A vindima fazia-se pela maturação média, umas uvas muito maduras outras bastante verdes e algumas uvas mais ou menos doces!
O objectivo era um vinho frutado com muita "chispa"... para matar a sede!
A nova maneira de fazer:
No Douro as grandes companhias fizeram replantações com menos castas e as vinhas monovarietais, ou com talhões monovarietais.
No Alentejo alguns estrangeiros romperam com a tradição local e plantaram castas do "Novo Mundo" e fizeram adegas tecnológicas.
No concelho de Chaves também já há produtores que assimilaram as teses dessa nova escola.
Os vinhos (reservas) já se aguentam vários anos... e até melhoram a qualidade... tornam-se macios até parece milagre!
Eu sei que faz muita confusão aos nossos agricultores ouvir falar de vindimas monovarietais.
Pois é, vindimar o que está maduro e fermentar uma casta de cada vez!
Depois fazer a "mistura" de acordo com os objectivos e as tendências do mercado.
O produto final, o vinho obtido, é o resultado de um processo industrial e nunca de um processo aleatório derivado das condições climatéricas anuais.
As fermentações são feitas com conta peso e medida em equipamentos de temperaturas controladas e outras tecnologias.
Pode adiar-se a morte das pequenas explorações á moda antiga... com ou sem PAC, não mudar nada é o caminho directo ao fracasso.
Biodiversidade sim, mas... ou seja: manter "vivas" no nosso País muitas castas, mas cada parcela tem de ser cultivada de uma forma racional em cultura monovarietal.
Com muito sol e um clima temperado, fazendo como os outros já fazem, é possível competir neste mercado cada vez mais global e talvez até com algumas vantagens competitivas!
Está tudo inventado, não sejamos preguiçosos!

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